Como criar e comercializar papagaios, araras e maritacas

Todos os criadores de psitacídeos sabem que nutrição e instalações adequadas são fatores essenciais para manutenção da saúde e procriação

Os papagaios, araras e maritacas, na verdade, fazem parte de um grande grupo de aves, os Psittaciformes, chamados popularmente de aves de bico torto. Esse grupo ocorre não só na América do Sul, mas, também, na África e Austrália; possui mais de trezentas espécies e adicionalmente algumas centenas de subespécies e raças artificiais criadas pelo homem, como os diversos periquitos e agapornis.

Para se ter uma ideia da dimensão do comércio de psitacídeos selvagens podemos analisar alguns números. No final dos anos 80, somente o Senegal exportava 20 milhões de aves anualmente. Entre os anos 81 - 18, os EUA importaram, legalmente, 703.000 psitacídeos da América do Sul e Central. Isso sem contar com a Europa e Japão que importaram números semelhantes. No final da década de 80, o negócio de animais silvestres rendia para o Peru, 20 milhões de dólares por ano. No Brasil, tem-se notícias de que apenas um traficante capturou 10.000 araras azuis. O tráfico ilegal reduziu a população original dessa espécie, estimada em até 3 milhões de indivíduos para não mais que 5.000. Na verdade, o comércio de animais é a terceira maior indústria ilegal no mundo após drogas e armas.

Todos os criadores de psitacídeos sabem que nutrição e instalações adequadas são fatores essenciais para manutenção da saúde e procriação. Falhas graves no primeiro podem levar indivíduos a uma lenta debilitação ocasionando até a morte a longo prazo.

Aves portadoras de bactérias e fungos nocivos sempre estão sujeitas a enfermidades devido a uma diminuição de resistência. Assim, criatórios que mantém suas aves em boas condições higiênicas possuem uma taxa de mortalidade muito baixa. O contrário ocorrendo em locais com condições higiênicas precárias.

Existem dezenas de tipos de viveiros, empregados para criação cujas características variam com o tipo de ave, terreno e características morfoclimáticas do local. A disponibilidade de capital obviamente influencia muito nas instalações de um local. A descrição de todas as variedades seria desnecessária e tomaria um enorme espaço.

Pode-se construir um conjunto de viveiros aéreos feitos com tela soldada à prova de camundongos e pardais. A tela soldada possui a vantagem de ser mais higiênica e não exigir armações fortes, porém, é mais cara e de difícil aquisição no país. Como alternativa, pode-se usar tela trançada. O arame deve ser sempre galvanizado e de muito boa qualidade. Como os psitacídeos usam o bico para auxílio na locomoção vertical, já foram observados casos de intoxicação pela ferrugem ou resíduos de metal em aves que habitavam viveiros com telas de má qualidade.

Hoje está muito claro para os criadores brasileiros e estrangeiros que viveiros pequenos são ideais para incentivar a reprodução na maioria dos psitacídeos. Parece que a proximidade obrigatória entre os pares propicia a atividade reprodutiva. Em B.I.I, por exemplo, existem bons casais reprodutores de araras canindé e vermelhas em viveiros quadrados de 1,85 x 1,85 m.

Entretanto, existem estudos que mostram que a atividade física em psitacídeos é importante para se ter uma boa absorção de cálcio. Fêmeas reprodutoras mantidas por muitos anos em locais pequenos podem ter problemas de saúde.

Apesar de parecerem pouco importante, os poleiros podem influenciar consideravelmente na fertilidade dos ovos. Deve-se sempre colocá-los na horizontal, tomando o cuidado para não escolher poleiros muito grossos ou finos. A ave deve ser capaz de agarrá-los com firmeza, do contrário, pode não ter equilíbrio na hora do cruzamento. Podem ser colocados apenas dois poleiros nas extremidades dos viveiros para incentivar o voo. A madeira deve ser macia porque os poleiros também servem como um "brinquedo" para a ave poder roer, exigindo, portanto, frequentes trocas. Em muitos locais, costuma-se usar canos de metal galvanizado. Entretanto, embora sejam mais práticos e higiênicos não podem ser utilizados em locais com invernos frios, pois provocam o resfriamento dos pés. É o caso de regiões localizadas no sul e sudeste do Brasil onde pode haver noites com temperaturas abaixo de 15oC.

Segundo Paulo Augusto Ribeiro Machado, coordenador do Curso Criação Comercial de Papagaios, Araras e Maritacas, elaborado pelo CPT - Centro de Produções Técnicas, "a criação comercial de psitacídeos é tida hoje como uma das soluções para a preservação de espécies selvagens. Sabe-se que a repressão ao tráfico, por mais forte que seja nunca conseguirá acabar com ele".